Monday, April 28, 2008

As relações sexuais e a modernidade.

As relações amorosas e a modernidade.

Resumo:

Um dos maiores assuntos em pauta na modernidade é a sexualidade embora exista uma repressão, de alguma maneira, a tudo relacionado ao sexo. O objetivo do artigo é levantar questões atuais em relação à sexualidade. Um ponto importante que se verifica na modernidade é a liquides das relações humanas, que Bauman trabalha em sua obra “Amor Liquido”. Um segundo ponto é a repressão, que se da de alguma forma, sobre a sexualidade, repressão essa que é muito ligado á obsessão à cientificidade do ser humano moderno. O terceiro ponto são as mudanças que ocorreram no século XX em relação à sexualidade no que tange à diferença entre os sexos e suas posições na sociedade. Com um dialogo entre os três pontos de discussão fica a questão de que se as diferenças entre os sexos masculino e feminino formam um abismo entre eles culminando assim na atual situação das relações sexuais, e como ela pode estar hoje se transformando, ou se está se transformando.

Palavras-chave:

Relações sexuais, relações humanas, amor, sexo, modernidade, liquides, mercadoria, ars erótica, scientia sexualis, homo sexualis, homo consumens, repressão sexual, panoptico, laços humanos, transformações na intimidade, diferença, feminino, masculino.

Introdução:

As relações amorosas ou sexuais, independente de como se denomina, estão em discussão permanentemente na sociedade, em todos os meios, sendo acadêmicos, religiosos, familiares, educacionais por pessoas com todas as formas de pensamento, por mais que se diga que não.

Digo, por mais que se diga que não, por que é um tema muito complicado que está na pauta de todos os dias, mas até o simples ato de falar dele já pode ser considerado um desvio, por mais esquisito que isso possa parecer. Existe toda uma moral por traz do assunto, todo um esquema armado pela socialização que constrange as pessoas a falarem do assunto, ou seja, existe, por algum motivo, todo um controle social em relação a isso. Apesar disso o assunto está em pauta, existem pessoas que sofrem por conta de questões sexuais, existem pessoas que têm suas vidas totalmente influencia, e também que vivem, de alguma forma, em total função do sexo.

O objetivo deste artigo é trazer uma discussão sobre as relações amorosas num contexto de uma sociedade moderna, muito ligada à economia e de moldes capitalistas. O artigo seria dividido em três partes, a primeira parte trazendo uma discussão do amor descontinuo e um tanto banalizado; a segunda discutindo a repressão, quanto às relações amorosas na atualidade; e a terceira discutindo as profundas transformações ocorridas nos últimos anos em relação a afetividade. São importantes para a discussão as contribuições de três grandes autores que são Bauman, Foucault e Giddens, para o bom desenvolvimento da discussão.

A liquides e a banalização do amor:

Quando falamos de amor na atualidade, apesar de toda uma repressão que possa existir em relação a isso, falamos de um amor um tanto banalizado, sendo que uma noite de sexo pode ser considerada que foi uma noite de amor, mesmo que os dois companheiros no dia seguinte nem se falem mais, esqueçam o que aconteceu e pronto acabou. Laços amorosos andam cada vez mais fracos, namoros quando existem duram pouco. Casamentos que apesar de obter uma jura de solidez, até que a morte os separe, duram até certo momento e se dissipam, e se multiplicam em uma só pessoa, tendo pessoas que casam duas, três vezes e até mais. E o Bauman vai falar exatamente dessa liquides existente nas relações amorosas.

Bauman, em seu livro “Amor Liquido”, fala das fragilidades dos laços humanos em todos os seus níveis, tanto em relação às relações sexuais, quanto em relação a um simples sentimento de respeito e solidariedade humana. Ele fala dos laços humanos muito submetidos às condições da modernidade, com forte influencia iluminista, e com o enfraquecimento das instituições sociais, formando assim uma sociedade liquida, como Bauman coloca muito bem em sua obra “Modernidade Liquida” e contextualiza com as relações amorosas na modernidade.

Em “Amor Liquido” se fala de um amor que já deixou de ser eterno para se tornar descontinuo e banalizado. Bauman conceitua amor como sendo humildade e coragem num terreno escuro, a pessoa está disposta a admitir e se entregar na liberdade do outro. Existe então uma diferença entre amor e desejo. No amor se embarca numa viagem em que se submete a tudo, á subjetividade, aos defeitos, às liberdades do outro, para assim os dois companheiros construírem uma vida juntos em total cooperação. O desejo seria, ao contrario, uma forma de consumir um produto. No momento que se sente desejo, se pretende aproveitar a pessoa no que ela tem de bom, e quando o produto não for mais útil, ou se tornar enjoativo, se descarte e parte para outra aventura que vá satisfazer os desejos. (BAUMAN, Amor Liquido, p.23, 24, 25). O desejo então estaria muito ligado a uma lógica de consumo muito presente na modernidade, sendo então uma possibilidade de consumir e descartar o chamado companheiro de acordo com sua livre iniciativa, para assim ir ao centro comercial e achar outro novinho para mais uma aventura, recomeçando assim o ciclo. Tudo isso por que, embarcar num relacionamento amoroso dos moldes que Bauman coloca, é um investimento de altíssimo risco, e um relacionamento consumista traria a segurança, ou ilusão, de que existe um relacionamento afetivo.

Seriam então o outro como mercadoria e os relacionamentos como investimentos. Sempre que se começa um relacionamento se pensa o que o companheiro vai trazer de lucro e o que trará como prejuízo. Estando aí uma dificuldade enorme de formar um rígido laço humano.

Bauman cita Levi-Strauss, pois este fala do sexo como o meio natural mais próximo da sociabilidade, seria a cultura e a natureza em cooperação. Bauman e Foucault falam da “ars erótica”, que seria o impulso sexual indo de acordo com o prazer. Quanto ao que Foucault fala trataremos em outro momento. O que Bauman coloca é que existe um declínio, na sociedade moderna, da ars erótica dando lugar a “scientia sexualis”. Sendo assim, ao invés de uma mistificação quanto ao sexo, existe uma frieza, uma racionalidade e uma distanciam do individuo das relações amorosas, como se fosse um cientista em relação ao seu objeto.

Com o advento da medicina, esta de alguma forma tomou o lugar da relação sexual como o papel reprodutor, como por exemplo, fertilizações in vitro. Mas quanto ao papel reprodutor, o fenômeno social mais importante que ocorre é que a própria reprodução perdeu seu papel importantíssimo que era dar sustentabilidade à família. Antes, uma pessoa não ter filhos era considerado um desastre, pois significava a descontinuidade ou fim da família. Na modernidade acontece um derretimento das instituições e a família não escapa disso. A família perde sua importância, e o papel da reprodução também perde sua importância, afetando ainda mais os laços humanos. Para criar um filho precisa de ainda mais afetividade humana. Como vimos isso acarreta num investimento caro e inseguro, ter um filho é muito mais caro do que viagens e viagens ao redor da terra a bordo de cruzeiros luxuosíssimos.

Os meios de comunicação, importantíssimos para as relações humanas, tem se evoluído de tal forma, que existe na atualidade uma facilidade incrível de se comunicar com pessoas a distancias cada vez maiores. Com isso se pode até dizer que existe uma facilidade muito grande de se envolver em relacionamentos dos mais diversos, mas ajuda também para que tais relacionamentos sejam cada vez mais frios, pois se tais meios moderníssimos de comunicação facilitam a comunicação, eles ajudam também a manter da distancia e a frieza.

O essencial que Bauman coloca é que existe uma substituição do “homo sexualis” pelo “homo consumens”. O importante nas conversas sobre sexo não é um relacionamento concreto, mas sim uma maior movimentação de verba. O de maior credibilidade é aquele que acumula mais e mais bens no currículo.

O sexo reprimido:

Michel Foucault fala de todo o jogo de poder, existente na sociedade, que vem reprimir tudo relacionado a relações sexuais. Uma coisa essencial que Foucault fala em toda a sua obra, é o panóptico, uma grande torre, um grande olho que vigia os prisioneiros, para que qualquer desvio de conduta seja respondido com a punição devida. Fica parecendo a descrição de uma prisão, mas Foucault usa essa metáfora para uma descrição da sociedade moderna, sendo que tal repressão se encontra muito presente em vários meios e varias questões inseridas na sociedade.

O sexo não poderia estar de fora da analise de Foucault, pois é nessa questão que a repressão ao ser humano é muito marcante. E na modernidade tal repressão sexual se da de uma maneira muito mais discreta e minuciosa do que parece.

Foucault faz então uma analise histórica da sexualidade para assim poder entender tudo o que gerou a atual repressão existente na modernidade, e é isso que ele faz na obra de três volumes denominada “História da Sexualidade”, vindo deis da idade antiga em sua analise.

Falando da atual situação da sexualidade, ou seja, da situação da sexualidade na modernidade, Foucault fala que o sistema repressor do sexo está no caráter racional da modernidade no que tange a obsessão de cientificidade do ser humano moderno, chegando ao “scientia sexualis”, que Bauman também coloca. Havendo então uma contraposição à “ars erótica”.

Na “ars erótica” existe, em relação ao sexo, um véu que cobre tudo o que acontece, todos os segredos são guardados, nenhum detalhe vaza sobre relações sexuais e tudo mais relacionado. Isso acontece com o objetivo de não banalizar o prazer que uma relação e um ato sexual traz para a pessoa, ou seja, o sexo é mantido na obscuridade até o momento em que é descoberto e assim tratado com muito mais prazer e intensidade. A “ars erótica“ pode ser verificada na idade antiga e também no mundo muçulmano. É total valorização do prazer na relação sexual.

Uma característica muito marcante na sociedade moderna é a “scientia sexualis” que é tratado, ao contrario do que acontece na “ars erótica”, não com o prazer sendo seu ponto chave, mas de acordo com Foucault, com interesses dos mais diversos que não é o prazer. Ao invés de guardar para si o prazer sentido numa relação sexual, o individuo tem de confessar aquilo que aconteceu nos maiores detalhes, e a maquina de vigiar e punir presente frente às aventuras sexuais se encontra exatamente aí.

A “scientia sexualis” se sustenta então na confissão como jogo de poder, que tem como combustível a obsessão do Homem moderno pela cientificidade, ou seja, as pessoas querem saber mais e mais sobre as relações sexuais. Existe então, como na ciência, uma produção de um saber, produção de discurso, logo existe uma indução do prazer e uma manutenção do poder. Com a produção de uma verdade sobre o sexo, se formou então uma moral.

As Transformações da intimidade:

Ao falar das transformações da intimidade, Anthony Giddens dialoga com Foucault em relação à “scientia sexualis” e com Bauman em relação a liquides das relações amorosas na atualidade.

Uma coisa muito importante que Giddens coloca é a transformação, no século XX, das relações entre os sexos masculino e feminino. Fazendo uma analise histórica, se chega à conclusão de que o sexo feminino quando entrava em um relacionamento amoroso era para se submeter inteiramente ao parceiro, não se envolvendo em aventuras paralelas, enquanto que os homens, embora casados, mantêm uma variabilidade em suas aventuras sexuais. Em meados do século XX foi marcante uma virada nessa situação que Giddens coloca como marcante para a atual situação dos relacionamentos amorosos da modernidade.

Em dialogo com Foucault, Giddens fala da “scientia sexualis” como a coisa mais importante para uma mudança radical de posição das mulheres nas relações sexuais. As mulheres, observando com seus olhos científicos o que ocorria nas relações sexuais passaram a não aceitar a variabilidade do sexo masculino, e, por que não, trouxeram essa variabilidade para o sexo feminino. Entrou em cena então o amor confluente na sociedade moderna, amor esse com características semelhantes ao “amor liquido” que Bauman muito bem descreve. Este amor confluente veio substituir o amor romântico (amor idealizado, marcado por profunda depressão por conta dessa idealização), e o amor apaixonado (amor propriamente dito, submetido às condições para a construção de algo), como conseqüência dessa falta de dialogo existente entre os sexos masculino e feminino, que por sua vez surgiu com a “scientia sexualis” muito bem descrita por Foucault. Seria um abismo entre os dois sexos que é impossível prever quando será transposto e o amor romântico ou apaixonado voltem a prevalecer nas relações sexuais.

Conclusão:

Bauman fala da liquides das instituições, dos relacionamentos humanos dentro de um contexto moderno. Foucault fala da “scientia sexualis” como uma forma banalizada de tratar as relações sexuais indo de acordo com todo um jogo repressivo. Giddens faz um excelente trabalho dialogando as duas idéias, chegando à conclusão de que existe um abismo entre os sexos masculino e feminino, que deixa confluente as relações amorosas. Fica a pergunta de até quando esse abismo entre os sexos persistirá mantendo a confluência, será que estamos longe do abismo ser transposto, ou será que uma transposição já começou?

Bibliografia:

.BAUMAN, Zygmunt. Amor liquido. Rio de janeiro: J Zahar, 2001

.FOUCAULT, Michel,. História da sexualidade 1: a vontade de saber. 17. ed. Rio de Janeiro: Graal, 2006.

.GIDDENS, Anthony. A transformação da intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas sociedades modernas. Sao paulo: Ed. Unesp, 1993.

7 Comments:

Blogger Unknown said...

Excelente questão a que foi levantada no seu ensaio. Porém, levanto um ponto, que ,para mim, pareceu conflituoso na organização das idéias. Com certeza, isso vem do fato de eu não gostar muito das teorias do Bauman, mas mesmo assim:

Entendo "instituição" como um conjunto de normas sociais específicas, que ditam comportamentos. A repressão seria, então, reação aos desvios desses padrões comportamentais (no melhor estilo fato social de Durkheim). Ora, se as instituições são líquidas, a começar pela família (ponto de vista que discordo), de onde vêm as repressões aos assuntos sexuais?

Grande abraço, meu caro.

6:20 PM  
Blogger Vitor Camargo de Melo said...

Demais, Rafito...
Demais mesmo. Está aí um tema que devia ser tratado com mais frequencia por pessoas com esse tipo de sensibilidade...

9:15 AM  
Blogger trezoitao38 said...

Opa, Já li o livro do Giddens, do qual eu gostei muito, até porque ele diferente do Bauman e de outros tem uma perspectiva otimista.

Lerei o seu texto.

Mas antes eu gostaria de levantar um ponto importante. Eu estava lendo um livro sobre prostituição aqui em Goiânia, livro do Rogério Araújo, provavelmente um professor da UCG, ele disse que a teoria de Giddens estava errada, pelo menos por aqui no Brasil, quando a fusão da mulher sexual e afetiva numa só pessoa. Araújo considerou que ainda é muito comum aqui no Brasil o homem considerar que a mulher de casa e de família e é uma coisa e que a mulher safada e tudo mais seria outra, no caso a prostituta.

Um dos problemas que eu percebi no livro de Giddens é que ele não mostra muito bem como chegou a tais conclusões. Concordo e muito com relacionamento puro, acho que o mundo ocidental está caminhando para isso mesmo, mas faltou uma série de fontes para explicar como ele chegou até isso. Ele examinou uma série de relatos, livros de auto-ajuda, mas não foi tão preciso. Muito disso se deve ao fato dele ter escrito esse livro para pessoas comum e não pessoas que fazem parte de uma academia. Ele mesmo afirma isso logo no prefrácio que se preocupou com uma linguagem muito clara.

Outro erro dele foi ter confiado em dados falsos. Uma das estatísticas que aparece em seu livro é de que 40% dos homens casados nos EUA já tiveram relações homossexuais. Não foi mencionado no livro dele que quem fez essa pesquisa não sabia como montar uma amostra representativa e tais dados eram falsos.

Outro ponto que eu gostaria de levantar tambem é a separação do amor com o ato sexual, a realização de um fetiche não implica necessariamente a uma traição. O que leva muita gente a crer que pessoas que fazem trocas de casais entre outros tipos de fetiches como menage, são poligamicas. Mas eu diria que não, pois do ponto de vista afetivo, ou seja, pelo lado amorosos, são ainda casais monogamicos. Esse aspecto não foi apresentado no livro de Giddens que foi escrito em 1992 se não me engano agora. Pode até ser que esse tipo de acontecimento já existia antes, mas está mais explicito nos dias atuais. E até um bom caso para se estudar a pornografia amadora na internet nos dias atuais, tem um pouco a ver com isso que eu falei, a realização de um fetiche. Outro ponto que esse tipo de estudo poderia nos mostrar, é que a pornografia tem influenciado demais as relações sexuais. Esse ponto é até demonstrado de certa maneira quando Giddens fala de amor confluente e relacionamento puro, ele menciona que os casais estão procurando novas formas de prazer, daí vem essa influência.

Desculpe se eu repeti alguma coisa no seu texto, mas é que eu ainda não li ele, mas fiquei afoito demais para comentar essas coisas.

7:31 AM  
Anonymous Anonymous said...

li, reli e traduzi para aramaico antigo...

8:03 AM  
Anonymous Anonymous said...

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7:20 AM  
Anonymous Anonymous said...

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9:21 AM  
Anonymous Anonymous said...

Muitas impropriedades gramaticais para quem pretende ser lido. Má influencia. Coitada da lingua portuguesa!!

2:52 PM  

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