Wednesday, December 05, 2007

1984 e a CONTEMPORANEIDADE

Introdução:
Existe uma ampla discussão entre os teóricos sobre a modernidade, as características da sociedade moderna, se a modernidade acabou ou não, se vivemos então numa sociedade pós-moderna ou se a modernidade está presente com uma maior força e com outras características.
Pegando os teóricos Goffman, Foucault, Bauman e Lipovetsky vemos pontos diferentes nessa discussão. Vemos posições em que a sociedade moderna é metaforizada como sendo uma prisão, uma instituição total onde estamos em constante regime de vigiar e punir. Por outro lado existem visões em que a sociedade se encontra em constante mudança e que o individuo está em certos momentos liberto para ações de certa relevância em sua vida. A relação com o tempo é levada muito em consideração, pegando o passado, o presente e o futuro e as importâncias de cada um em dados momentos da sociedade.
Uma coisa que podemos tirar lendo os quatro autores que trataremos aqui, além de vários outros, é que existe na sociedade moderna uma grande sensação de insegurança, uma grande valorização do “eu”, uma grande necessidade de policiamento de condutas dos indivíduos entre si e do individuo em si mesmo. Pelo bem star de todos, as moradias estão cercadas de muro e de câmeras de vídeo, não só as moradias mas locais de acesso publico. Existindo sempre uma sensação de insegurança os indivíduos estão constantemente vigiando um ao outro para que cada um não saia do comportamento que é o normal.
Olhando a sociedade dessa maneira fica impossível não lembrar da grande obra de George Orwel chamada 1984. Na obra o Estado é retratado como uma instituição total, ligado à ideologia do partido, os indivíduos então viveriam apenas em função do partido, que tem como líder carismático o líder que é tratado como o Grande Irmão.
Procurarei no presente trabalho relacionar obras de autores contemporâneos com a obra de Orwel. As obras “Prisões, conventos e manicômios” de Goffman; “O Panoptismo” de Foucault; “A modernidade liquida” e o “Amor liquido” de Bauman; e “Tempo contra tempo, ou a sociedade hipermoderna” de Lipovetsky; serão relacionadas com “1984” no presente artigo.



1984 de George Orwel, um breve resumo da ficção contada e da sociedade (fictícia) descrita:
A história se passa no "futuro" ano de 1984 (o livro foi escrito em 1948, os dois últimos algarismos foram invertidos formando o nome do livro: 1984) na Inglaterra, ou Pista de Pouso Número 1, parte integrante do megabloco da Oceania. É comum a confusão dos leitores com o continente homônimo real. O megabloco imaginado por Orwell tem este nome por ser uma congregação de países de todos os oceanos.
E a transformação da realidade é o tema principal de 1984. Disfarçada de democracia, a Oceania vive um totalitarismo desde que o IngSoc (o Partido) chegou ao poder sob a batuta do onipresente Grande Irmão (Big Brother).
Narrado em terceira pessoa, o livro conta a história de Winston Smith, membro do partido externo, funcionário do Ministério da Verdade. A função de Winston é reescrever e alterar dados de acordo com o interesse do Partido. Nada muito diferente de um jornalista ou um historiador. Winston questiona a opressão que o Partido exercia nos cidadãos. Se alguém pensasse diferente, cometia crimidéia (crime de idéia em novilíngua) e fatalmente seria capturado pela Polícia do Pensamento e era vaporizado, desaparecia. Os indivíduos viviam para servir os interesses do partido.
Winston Smith e todos os cidadãos sabiam que qualquer atitude suspeita poderia significar seu fim. Os vizinhos e os próprios filhos eram incentivados a denunciar à Polícia do Pensamento quem cometesse crimidéia. Fato comum nos regimes totalitários.
Algo estava errado, Winston não sabia como, mas sentia isso e precisava extravasar. Com quem seria seguro comentar sobre suas angústias? Não tendo respostas satisfatórias, Winston compra clandestinamente um bloco e um lápis (artigos de venda proibida adquiridos num antiquário).
A partir daí Winston começa a se envolver em ações que contrariavam as ordens impostas na sociedade. Envolve-se em relacionamentos amorosos, reuniões as escondidas. Uma hora é pego pelo Estado e passa por situações em que é vaporizado.

“Prisões, conventos e manicômios” de Goffman e a instituição total estatal de “1984”:
Goffman, em “Prisões, conventos e manicômios”, fala das instituições totais que dão nome à sua obra. Elas, de acordo com seus tipos, cumprem alguma função que é essencial na sociedade. As prisões serviriam para repelir algum agente perigoso da sociedade e assim reabilitar tal individuo ás normas da sociedade. Os conventos serviriam para um individuo se isolar do mundo e cumprir alguma penitencia ou dever de caráter religioso entre outras coisas. Os manicômios serviriam para reabilitação e isolamento de um individuo que não está em condição da vida em sociedade.
A teoria do Goffman é muito voltada para o “eu” e sua relação com toda a sociedade, com os indivíduos presentes na vida cotidiana. Sua teoria é denominada “interacionismo simbólico” e é muito bem descrita na obra “Representação do eu na vida cotidiana”. De acordo com Goffman, cada individuo age (expressão) frente aos outros preocupado em obter uma dada resposta desejada (impressão), procurando assim um tratamento adequado de acordo com o papel que exerce. Para tal o conhecimento ou a visão que se tem do outro é essencial (estereotipo). As expressões podem ser transmitidas e emitidas. As expressões pedem ser também controladas e não controladas pelos indivíduos. O jogo de controle do papel do individuo é “um ciclo potencialmente infinito de encobrimento, descobrimento, revelações falsas e descobertas”. Embora haja mudanças, as primeiras impressões apresentadas são muito importantes. Uma ruptura de papeis seria de grande importância para a vida social do grupo.
Como o nome da obra diz é a “Representação do eu na vida cotidiana”, em “Prisões, conventos e manicômios” analisa-se indivíduos que estão isolados da sociedade, longe de uma vida dita normal, em que se tem uma relação com os outros seres humanos. Goffman fala de lugar em que os indivíduos presentes nem sempre querem estar ali, as pessoas são retiradas de suas casas, não podem mais fazer as coisas mínimas de seus costumes, são afastadas das pessoas que gostavam e conviviam, são privadas das coisas que lhe davam prazer, são levadas para um lugar cheio de regras e limitações físicas fugindo totalmente do cotidiano. Nesse lugar, a pessoa é despojada de seus bens, um anel que a pessoa goste e se identifique lhe é tomado, assim como qualquer outro objeto, as roupas que lhe são próprias são retiradas e colocadas uma roupa que é uniforme na instituição, a pessoa não é mais chamada pelo nome que lhe é próprio e assim ganha um numero que ficará estampado em seu uniforme e as pessoas lhe chamarão através desse numero. Em tais instituições existem regras que se não forem seguidas a pessoa passa por grande humilhação, em que a pessoa se encontrará em posição de total incapacidade. Podemos escrever 20 ou 30 paginas falando das instituições totais e a supressão da identidade, do eu nessas instituições.
Em “1984”, George Orwel descreve a sociedade com seus indivíduos vivendo sob um Estado totalitário. O Estado seria então uma instituição total, que tomado pelo “Partido Revolucionário” e suas idéias incidem sob os indivíduos com o objetivo de fazerem estes agirem de acordo com as ideologias e objetivos do partido. Orwel trás para o cotidiano a instituição total que Goffman descreve.
Os indivíduos são constantemente vigiados pelas “teletelas”, vestem o uniforme do partido, são policiados e vigiados a não possuírem nenhum sentimento que não for os relacionados ao partido, mesmo que estes sentimentos sejam expressões de sentimentos individuais, pois os indivíduos da sociedade não vivem para si, mas sim para a ideologia e objetivos do partido, se a pessoa tem alguma emoção essa emoção para não ser considerada “crimidéia” precisa ser uma emoção voltada às coisas do partido.
Assim como numa instituição total goffmaniana em que os internos se relacionam apenas com a equipe dirigente, na sociedade descrita por Orwel a única relação existente é dos indivíduos com o partido (muitas vezes representados por enviados do “Grande Irmão”). Uma sociedade de total clausura, de total policiamento, em que o eu é totalmente derrubado por um objetivo que é tratado como total na sociedade.

O Panóptico:
Estamos numa época de constante questionamento. Fala-se da sociedade como um sistema, muitas vezes comparada com uma prisão de segurança máxima, outra tantas vezes comparada com uma substancia liquida derramada no chão. No presente momento me ocuparei em falar da primeira comparação, a visão de que a sociedade é uma prisão de segurança máxima, onde temos a pura sensação de estarmos sendo vigiados 24 horas por dia, e que, com isso, qualquer desvio do conduta acarretará numa dura punição.
Michel Foucault faça do “panóptico”. Descreve uma grande prisão em forma pentagonal, repleta de presos. Existe um pátio central no pentágono, com uma torre esplendorosa ao meio, e as celas ficam voltadas para a parte de dentro do pentágono de modo que todas as celas possam ser observadas pela guarda da torre. Os presos, por sua vez não conseguem ver a guarda na torre pelas disposições das janelas. Acontece, assim, que os presos sentem a constante sensação de que estão sendo vigiados, mesmo que o numero de vigilantes presentes na torre seja o menos possível, por isso cumpre-se as normas de conduta de maneira quase religiosa.
Foucault descreve uma prisão, que ele classifica como instituição total, existindo aí uma semelhança com o trabalho do Goffman. Foucault define uma instituição total, como um lugar em que o poder se insere sob o individuo com tamanha violência que a conduta do individuo vai se adequar perfeitamente com a idéia que impera a instituição, se não for perfeito é quase perfeito.
Foucault fala que essa relação de poder presente nas instituições totais está presente também na vida cotidiana das pessoas. Numa sociedade como a nossa os indivíduos têm, em tese, uma liberdade de agirem como querem de falar, pensar, manifestar seus pensamentos de variadas formas. Mas acontece que existem regras na sociedade que precisam ser seguidas. Bom, se em tese os indivíduos são livres para fazerem o que quiserem o que bem entendem, na pratica existe um grande olho que vigia os indivíduos para que suas condutas se encaixem com as regras presentes na sociedade. Existe então um poder coagindo constantemente o individuo muitas vezes tão ou mais intimidador quanto a torre central da prisão descrita por Foucault. Impossível não lembrar do fato social de Durkheim, coagindo os indivíduos para que a conduta desses vá de acordo com os pilares da sociedade.
Clarice Lispector em uma crônica falando de Brasília, fala da cidade como se fosse um exemplo esplendido de modernidade. E uma coisa que ela coloca é que durante o tempo que esteve na cidade, teve sempre a sensação de ter um grande olho a vigiá-la. Bom, esse tom panóptico presente na cidade às vezes fica muito claro, não só em Brasília como também em varias outras cidades, mas parece que Brasília tem alguma coisa de diferente, Bauman fala um pouco disso, coisa que será tratado em outra parte.
Na vida cotidiana estamos sempre cercados de câmeras por todos os lados. Certo que dentro dos aposentos das casas não estamos em vigia constante, mas em espaço publico isso fica claro, e qualquer desvio acarreta em pena.
George Orwel trabalha muito com isso, se em nossas casas não existe uma câmera a nos vigiar, nas casas de “1984” existe sim, com uma foto do “grande irmão” sempre com seus olhos arregalados a olhar e prestar atenção na vida de cada uma das pessoas. Nem se pensa se tem alguém ali olhando o que cada um faz dentro de suas casas, ou nas ruas, onde as teletelas, assim como nas casas, estão presentes. Qualquer desvio de conduta traz duras penas e até vaporização, a pessoa some fisicamente e socialmente, depois de um tempo, não se tem mais a consciência de que a pessoa em algum momento existiu, todas as lembranças delas são apagadas ma sociedade.
Orwel e Foucault têm uma visão muito drástica da sociedade, Foucault escreveu suas coisas depois de Orwel que escreveu “1984” em 1948. Os dois autores dramatizam o panóptico, porem não param de ver a sociedade contemporânea dessa maneira. As discussões existem como veremos, Bauman coloca a sociedade contemporâneas próximo a um liquido derramado no chão. Mas isso que Orwel e Foucault colocam para nossa sociedade é muito claro quando procuramos o que constantemente nos excita, e como num golpe de olhar somos coagidos a agir de acordo com o que se procura, fazendo, de cabeça baixa e boca calada, aquilo que uma suposta regra, pensada por uma dada idéia nos manda fazer.
Pode-se achar que em tal visão exista até um pouco de sensacionalismo, que os indivíduos, na vida cotidiana não se encontram tanto assim numa prisão e que tem um olho constantemente a olhar e vigiar, coagindo os indivíduos a seguirem as regras. Existem argumentos então de que a sociedade contemporânea não é tão sólida assim, mas as instituições que estão aí para coagir os indivíduos estão amolecendo, derretendo ao limiar da modernidade que o Bauman, tendo assim uma outra conversa com Orwel.

A sociedade liquida, (será que falta alguma coisa?):
George Orwel fala da sociedade totalmente liquida, com os indivíduos vivendo apenas para uma instituição que é total em sua sociedade. Os indivíduos não têm família, um resquício da existência dela depende dos interesses do partido. Não existe uma religião institucionalizada, cristalizada, existe uma religiosidade em que o líder carismático e todos os cultos e dias santos são ligados à figura carismática do “grande irmão”, logo, aos interesses do partido. Existe uma instituição sólida, instituição total e marcada pelo panoptismo. Será que Orwel e Foucault discordariam totalmente de alguém que chegasse e falasse que a sociedade moderna é liquida e que não tem nada de sólido?
Bauman vai falar que a sociedade moderna é liquida. Na idade média existia uma sociedade em que a tradição reinava, mostrando o caráter sólido das instituições, tratadas como eternas e infalíveis. O homem vivia em função da religião, ele, o homem, não se achava o centro do universo, pois o centro do universo era deus, A igreja católica imperava por toda a Europa, as relações humanas nos feudos eram eternas e na mais perfeita estabilidade, com o clero se preocupando com as coisas de deus, com o senhor que se preocupava com a guerra e proteger o feudo das invasões bárbaras, e o servo que se preocupava com a alimentação de todo o feudo. Era impensável uma vida fora do feudo, como era impensável também uma maleabilidade na sociedade, ou seja, alguém que nascia servo viveria toda a sua vida como servo e morreria assim, o mesmo acontecendo com o senhor feudal. Não existia uma vida de nômades, em que as pessoas, achando ruim a vida em seu feudo pegam suas coisas e partem em busca de uma vida melhor, em um feudo melhor. As pessoas nasciam nos feudos e era impensável sair dos limites daquele feudo.
Até que começou a ocorrer um fenômeno, até então impensável, de pessoas produzirem coisas que iam além de suas necessidades, e então resolveram sair percorrendo os outros feudos para trocar seus produtos em excesso por outros que lhes faltavam. Pois bem, desse fato nasce um longuíssimo processo que se eu colocar aqui vai paginas e mais paginas de escrita. Tal processo se denominou modernização, dando origem à sociedade moderna, a modernidade. A modernidade é marcada pelas idéias iluministas, do individuo racional, totalmente livre das correntes da idade media, é o homem como centro do universo e não deus.
Os idealistas do iluminismo, da revolução francesa se decepcionariam se pegassem escritos de sábios do século XX que descrevem a sociedade moderna e descobrisse que a sociedade é sólida, que os indivíduos não são livres, para pensarem o que querem, não são livres para comercializarem o que querem que exista um panóptico imperando na vida das pessoas e que qualquer pensamento racional seria então impossível. Ficariam loucos ao lerem Foucault e “1984” do Orwel.
Bauman veio pra falar outra coisa que não à desses dois, ele vai falar de uma sociedade muito marcada pelo iluminismo, muito marcada pelos ideais de racionalização do homem, e tendo liberdade para fazerem o que bem entenderem. Bauman fala que pelo longo processo houve um derretimento das instituições que existiam na idade media. Ele faz uma referencia ao manifesto comunista do Marx, que fala de um derretimento dos sólidos causado pela revolução burguesa.
Os projetos de importância hoje não são mais os projetos de caráter coletivo, mas sim os projetos de caráter individuais. As religiões estão aí, mas não se pensa mais em seguir religiosamente uma religião (por mais contraditório que isso seja). Nada mais é feito religiosamente, entendendo esse termo no sentido de dogma. Falam que a maioria da população brasileira é católica, mas se a grande maioria dos católicos for questionada sobre isso surgirá o termo “católico não praticante”. Existem nos países constituições, marca registrada da racionalização trazida pela instituição Estado que propõe uma sustentação das regras, mas existem países em, que num período de 20 anos, tiveram 4 ou 5 constituições diferentes. Uma moda no Brasil é a emenda à constituição, para o atendimento de certos interesses que vão contra as regras é apenas ir lá e mudar as regras, legitimando de uma hora pra outra aquilo que a pouco era ilegítimo.
Bauman escreveu sobre o amor. Coloca o amor como desejo de fortalecimento dos laços humanos, e o sexo seria a principal fonte de sustentação desses laços, o sexo seria o intermédio natural e social para o fortalecimento das relações humanas. Bauman diz que tudo isso acabou com a modernidade, o sexo não está mais aí para fortalecer os laços humanos, o homem tem uma visão muito racional e fria das relações sexuais, essa visão chega a ser cientifica em certos momentos. O sexo perdeu para a medicina sua função de reprodução, e mesmo a figura do filho já não tem mais a sua importância, antes o filho era uma garantia de sobrevivência de vários anos da instituição familiar, mas a família é uma instituição falida, o filho perdeu sua importância, agora é tratado como se fosse um artigo muito caro, que seu preço custa muito mais do que vários carros zero quilômetro, e viagens e mais viagens de cruzeiro ao redor da terra. A família não é a única instituição falida na modernidade, é difícil encontrar alguma que não esteja em processo de liquefação, ou liquidas.
Orwel e Foucault leriam Bauman e ficariam perplexos. Como pode um individuo viver sem essa força regendo suas vidas? Seria possível pensar num individuo vivendo sozinho no mundo? É preciso voltar à Durkheim. Onde está o fato social aí? Durkheim fala que existe a divisão do trabalho social e que existe uma consciência coletiva e o individuo pra ser aceito na sociedade precisa viver de acordo com essa consciência coletiva. Fala que os indivíduos precisam de uma base cognitiva, que anda de acordo com a consciência coletiva, sem essa base cognitiva o individuo morre, através do suicídio. Bauman fala que as instituições, que é o que da as bases cognitivas aos indivíduos, estão derretendo. As bases cognitivas dos indivíduos vão se desmanchar, e estes, continuarão vivos?
Da maneira que Bauman escreve, e também da maneira que se lêem as obras dele, se pensa as vezes que os indivíduos vivem muito bem com as instituições derretidas, outras vezes se pensa que Bauman vai de acordo com Durkheim, ou seja, na modernidade os indivíduos não têm sustentação para viver, falta à base cognitiva colocada por Durkheim. O individuo moderno seria então um individuo deprimido e às vezes muito disposto ao suicídio, a modernidade convocando ao suicídio.
Em sua obra, “Globalização”, em certo momento, Bauman fala da cidade de Brasília, falando que esta foi projetada para um individuo que foi criado num tubo de ensaio para viver com as idéias impostas, muito ligadas ao panóptico. Seria a presença muito clara do panóptico em Brasília, com um brasiliense não vivendo para si, mas para outros ideais. Bauman então fala de uma doença chamada “brasilite”, que é a depressão que o brasiliense tem em viver numa cidade em que está constantemente solitária, vendo pessoas sem rostos, sem um lugar onde as pessoas possam se encontrar, entre outras coisas.

Tempo contra o Tempo:
Em “1984” Orwel descreve uma sociedade em que os indivíduos vivem para o partido, independente de suas contradições. O partido tem seus objetivos, e a massa de indivíduos é o exercito que luta a favor de tais objetivos sempre. Os indivíduos então não estão preocupados com o passado nem com o futuro, estão constantemente no presente cumprindo as exigências do partido.
Lipovetsky, em sua obra “Tempo contra o Tempo, ou a sociedade hipermoderna”, falam de uma sociedade em que o presente é o importante, as pessoas estão preocupadas consigo mesmas, não para a ideologia de um partido ou coisa assim. As pessoas estão preocupadas com o bem-star, tendo um bem-star no presente é o ideal.
Diferentemente do homem de Orwel, o individuo da sociedade hipermoderna ao tem sua cabeça só no presente (mesmo se for de uma maneira diferenciada da que Orwel coloca), mas o individuo hipermoderno se preocupa com o futuro para que não aconteça algo que prejudique seu bem-star, suas satisfações pessoais.

Conclusão:
Os teóricos da contemporaneidade estão meio indecisos quanto à modernidade. Se esta acabou, se não acabou, ou se está para acabar. Existe uma polemica muito grande quanto ao termo “pós-moderno”. Podemos chamar Goffman, Foucault, Bauman, Lipovetsky de pós-modernos, embora este ultimo já diga que a pós-modernidade já foi e que uma sociedade com traços hipermodernos se apresenta agora.
Orwel escreveu uma obra que traz discussão, Bauman e Lipovetsky citaram Owel, concordando e discordando dele.
Uma coisa fica clara, “1984” é muito importante para a sociedade, dividindo as opiniões de intelectuais de variadas áreas da ciência. Para concluir o trabalho gostaria de relembrar uma musica do Raul Seixas que se chama “Sociedade Alternativa”, vai um trecho da letra d musica: “Então váFaça o que tu queresPois é tudo Da lei, da lei Viva, viva, viva a sociedade alternativa Faz o que tu queres, há de serTudo da lei, da leiTodo homem, toda mulherÉ uma estrelaViva Viva, viva, viva a sociedade alternativa”
(Raul Seixas)

Raul Seixas fala de uma sociedade de total valorização do individuo, em que cada um tem o direito de fazer o que quer fazer, e que essa é a lei. Raul agora fala de uma lei, e que parece muito sólida frente ao contexto em que se encontra a nossa sociedade, será que o panóptico da sociedade contemporânea não está aí? Fica então a a discussão.

Bibliografia:
.ORWELL, George, Pseud de Eric Blair. 1984. Paris: Gallimard, 1956.
.GOFFMAN, Erving. A representacao do eu na vida cotidiana. 12. ed. Petropolis: Editora Vozes Ltda, 2002.
.GOFFMAN, Erving. Manicomios, prisoes e conventos. 3. ed. Sao paulo: Perspectiva, 1990.
.FOUCAULT, Michel,. Vigiar e punir: Nascimento da prisao. Petropolis: Editora Vozes Ltda, 1977.
.BAUMAN, Zygmunt. Globalizacao: As consequencias humanas. Rio de janeiro: J Zahar, 1999.
.BAUMAN, Zygmunt. Modernidade liquida. Rio de janeiro: J Zahar, 2001.
.BAUMAN, Zygmunt. Amor liquido. Rio de janeiro: J Zahar, 2001.
.LIPOVETSKY, Gilles. Tempo contra tempo, ou a sociedade hipermoderna.

5 Comments:

Blogger trezoitao38 said...

E aí Rafael? beleza? Sou o Felipe, ainda não li o seu texto, mas peço que vá até o meu blog: http://trezoitao38.blogspot.com/

Talvez eu volte a escrever nele com alguma inspiração.

4:56 PM  
Anonymous Anonymous said...

Oi Rafa!
Então finalmente li o seu artigo.
Gostei bastante dele. Eu tiraria algumas partes q n são tao importantes para o entendimaente da interligação entre os autores.
Mas gostei muito do artigo. Ele está bem compreensível e tem uma linearidade.
Bjao!

9:19 PM  
Anonymous Anonymous said...

Então.. a Kirstine é a Carine.
bjus

9:21 PM  
Blogger Unknown said...

RAFITO RAFITO... que coisa boa, fui reler seu post no meu post do NUNO LEAL MAIA em novembro do ano passado e só agora me apercebi desse tesouro! Bom, quando tiver mais tempo exploro com adequação!

10:31 PM  
Anonymous Anonymous said...

Thanks for writing this.

6:34 AM  

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