Monday, April 28, 2008

As relações sexuais e a modernidade.

As relações amorosas e a modernidade.

Resumo:

Um dos maiores assuntos em pauta na modernidade é a sexualidade embora exista uma repressão, de alguma maneira, a tudo relacionado ao sexo. O objetivo do artigo é levantar questões atuais em relação à sexualidade. Um ponto importante que se verifica na modernidade é a liquides das relações humanas, que Bauman trabalha em sua obra “Amor Liquido”. Um segundo ponto é a repressão, que se da de alguma forma, sobre a sexualidade, repressão essa que é muito ligado á obsessão à cientificidade do ser humano moderno. O terceiro ponto são as mudanças que ocorreram no século XX em relação à sexualidade no que tange à diferença entre os sexos e suas posições na sociedade. Com um dialogo entre os três pontos de discussão fica a questão de que se as diferenças entre os sexos masculino e feminino formam um abismo entre eles culminando assim na atual situação das relações sexuais, e como ela pode estar hoje se transformando, ou se está se transformando.

Palavras-chave:

Relações sexuais, relações humanas, amor, sexo, modernidade, liquides, mercadoria, ars erótica, scientia sexualis, homo sexualis, homo consumens, repressão sexual, panoptico, laços humanos, transformações na intimidade, diferença, feminino, masculino.

Introdução:

As relações amorosas ou sexuais, independente de como se denomina, estão em discussão permanentemente na sociedade, em todos os meios, sendo acadêmicos, religiosos, familiares, educacionais por pessoas com todas as formas de pensamento, por mais que se diga que não.

Digo, por mais que se diga que não, por que é um tema muito complicado que está na pauta de todos os dias, mas até o simples ato de falar dele já pode ser considerado um desvio, por mais esquisito que isso possa parecer. Existe toda uma moral por traz do assunto, todo um esquema armado pela socialização que constrange as pessoas a falarem do assunto, ou seja, existe, por algum motivo, todo um controle social em relação a isso. Apesar disso o assunto está em pauta, existem pessoas que sofrem por conta de questões sexuais, existem pessoas que têm suas vidas totalmente influencia, e também que vivem, de alguma forma, em total função do sexo.

O objetivo deste artigo é trazer uma discussão sobre as relações amorosas num contexto de uma sociedade moderna, muito ligada à economia e de moldes capitalistas. O artigo seria dividido em três partes, a primeira parte trazendo uma discussão do amor descontinuo e um tanto banalizado; a segunda discutindo a repressão, quanto às relações amorosas na atualidade; e a terceira discutindo as profundas transformações ocorridas nos últimos anos em relação a afetividade. São importantes para a discussão as contribuições de três grandes autores que são Bauman, Foucault e Giddens, para o bom desenvolvimento da discussão.

A liquides e a banalização do amor:

Quando falamos de amor na atualidade, apesar de toda uma repressão que possa existir em relação a isso, falamos de um amor um tanto banalizado, sendo que uma noite de sexo pode ser considerada que foi uma noite de amor, mesmo que os dois companheiros no dia seguinte nem se falem mais, esqueçam o que aconteceu e pronto acabou. Laços amorosos andam cada vez mais fracos, namoros quando existem duram pouco. Casamentos que apesar de obter uma jura de solidez, até que a morte os separe, duram até certo momento e se dissipam, e se multiplicam em uma só pessoa, tendo pessoas que casam duas, três vezes e até mais. E o Bauman vai falar exatamente dessa liquides existente nas relações amorosas.

Bauman, em seu livro “Amor Liquido”, fala das fragilidades dos laços humanos em todos os seus níveis, tanto em relação às relações sexuais, quanto em relação a um simples sentimento de respeito e solidariedade humana. Ele fala dos laços humanos muito submetidos às condições da modernidade, com forte influencia iluminista, e com o enfraquecimento das instituições sociais, formando assim uma sociedade liquida, como Bauman coloca muito bem em sua obra “Modernidade Liquida” e contextualiza com as relações amorosas na modernidade.

Em “Amor Liquido” se fala de um amor que já deixou de ser eterno para se tornar descontinuo e banalizado. Bauman conceitua amor como sendo humildade e coragem num terreno escuro, a pessoa está disposta a admitir e se entregar na liberdade do outro. Existe então uma diferença entre amor e desejo. No amor se embarca numa viagem em que se submete a tudo, á subjetividade, aos defeitos, às liberdades do outro, para assim os dois companheiros construírem uma vida juntos em total cooperação. O desejo seria, ao contrario, uma forma de consumir um produto. No momento que se sente desejo, se pretende aproveitar a pessoa no que ela tem de bom, e quando o produto não for mais útil, ou se tornar enjoativo, se descarte e parte para outra aventura que vá satisfazer os desejos. (BAUMAN, Amor Liquido, p.23, 24, 25). O desejo então estaria muito ligado a uma lógica de consumo muito presente na modernidade, sendo então uma possibilidade de consumir e descartar o chamado companheiro de acordo com sua livre iniciativa, para assim ir ao centro comercial e achar outro novinho para mais uma aventura, recomeçando assim o ciclo. Tudo isso por que, embarcar num relacionamento amoroso dos moldes que Bauman coloca, é um investimento de altíssimo risco, e um relacionamento consumista traria a segurança, ou ilusão, de que existe um relacionamento afetivo.

Seriam então o outro como mercadoria e os relacionamentos como investimentos. Sempre que se começa um relacionamento se pensa o que o companheiro vai trazer de lucro e o que trará como prejuízo. Estando aí uma dificuldade enorme de formar um rígido laço humano.

Bauman cita Levi-Strauss, pois este fala do sexo como o meio natural mais próximo da sociabilidade, seria a cultura e a natureza em cooperação. Bauman e Foucault falam da “ars erótica”, que seria o impulso sexual indo de acordo com o prazer. Quanto ao que Foucault fala trataremos em outro momento. O que Bauman coloca é que existe um declínio, na sociedade moderna, da ars erótica dando lugar a “scientia sexualis”. Sendo assim, ao invés de uma mistificação quanto ao sexo, existe uma frieza, uma racionalidade e uma distanciam do individuo das relações amorosas, como se fosse um cientista em relação ao seu objeto.

Com o advento da medicina, esta de alguma forma tomou o lugar da relação sexual como o papel reprodutor, como por exemplo, fertilizações in vitro. Mas quanto ao papel reprodutor, o fenômeno social mais importante que ocorre é que a própria reprodução perdeu seu papel importantíssimo que era dar sustentabilidade à família. Antes, uma pessoa não ter filhos era considerado um desastre, pois significava a descontinuidade ou fim da família. Na modernidade acontece um derretimento das instituições e a família não escapa disso. A família perde sua importância, e o papel da reprodução também perde sua importância, afetando ainda mais os laços humanos. Para criar um filho precisa de ainda mais afetividade humana. Como vimos isso acarreta num investimento caro e inseguro, ter um filho é muito mais caro do que viagens e viagens ao redor da terra a bordo de cruzeiros luxuosíssimos.

Os meios de comunicação, importantíssimos para as relações humanas, tem se evoluído de tal forma, que existe na atualidade uma facilidade incrível de se comunicar com pessoas a distancias cada vez maiores. Com isso se pode até dizer que existe uma facilidade muito grande de se envolver em relacionamentos dos mais diversos, mas ajuda também para que tais relacionamentos sejam cada vez mais frios, pois se tais meios moderníssimos de comunicação facilitam a comunicação, eles ajudam também a manter da distancia e a frieza.

O essencial que Bauman coloca é que existe uma substituição do “homo sexualis” pelo “homo consumens”. O importante nas conversas sobre sexo não é um relacionamento concreto, mas sim uma maior movimentação de verba. O de maior credibilidade é aquele que acumula mais e mais bens no currículo.

O sexo reprimido:

Michel Foucault fala de todo o jogo de poder, existente na sociedade, que vem reprimir tudo relacionado a relações sexuais. Uma coisa essencial que Foucault fala em toda a sua obra, é o panóptico, uma grande torre, um grande olho que vigia os prisioneiros, para que qualquer desvio de conduta seja respondido com a punição devida. Fica parecendo a descrição de uma prisão, mas Foucault usa essa metáfora para uma descrição da sociedade moderna, sendo que tal repressão se encontra muito presente em vários meios e varias questões inseridas na sociedade.

O sexo não poderia estar de fora da analise de Foucault, pois é nessa questão que a repressão ao ser humano é muito marcante. E na modernidade tal repressão sexual se da de uma maneira muito mais discreta e minuciosa do que parece.

Foucault faz então uma analise histórica da sexualidade para assim poder entender tudo o que gerou a atual repressão existente na modernidade, e é isso que ele faz na obra de três volumes denominada “História da Sexualidade”, vindo deis da idade antiga em sua analise.

Falando da atual situação da sexualidade, ou seja, da situação da sexualidade na modernidade, Foucault fala que o sistema repressor do sexo está no caráter racional da modernidade no que tange a obsessão de cientificidade do ser humano moderno, chegando ao “scientia sexualis”, que Bauman também coloca. Havendo então uma contraposição à “ars erótica”.

Na “ars erótica” existe, em relação ao sexo, um véu que cobre tudo o que acontece, todos os segredos são guardados, nenhum detalhe vaza sobre relações sexuais e tudo mais relacionado. Isso acontece com o objetivo de não banalizar o prazer que uma relação e um ato sexual traz para a pessoa, ou seja, o sexo é mantido na obscuridade até o momento em que é descoberto e assim tratado com muito mais prazer e intensidade. A “ars erótica“ pode ser verificada na idade antiga e também no mundo muçulmano. É total valorização do prazer na relação sexual.

Uma característica muito marcante na sociedade moderna é a “scientia sexualis” que é tratado, ao contrario do que acontece na “ars erótica”, não com o prazer sendo seu ponto chave, mas de acordo com Foucault, com interesses dos mais diversos que não é o prazer. Ao invés de guardar para si o prazer sentido numa relação sexual, o individuo tem de confessar aquilo que aconteceu nos maiores detalhes, e a maquina de vigiar e punir presente frente às aventuras sexuais se encontra exatamente aí.

A “scientia sexualis” se sustenta então na confissão como jogo de poder, que tem como combustível a obsessão do Homem moderno pela cientificidade, ou seja, as pessoas querem saber mais e mais sobre as relações sexuais. Existe então, como na ciência, uma produção de um saber, produção de discurso, logo existe uma indução do prazer e uma manutenção do poder. Com a produção de uma verdade sobre o sexo, se formou então uma moral.

As Transformações da intimidade:

Ao falar das transformações da intimidade, Anthony Giddens dialoga com Foucault em relação à “scientia sexualis” e com Bauman em relação a liquides das relações amorosas na atualidade.

Uma coisa muito importante que Giddens coloca é a transformação, no século XX, das relações entre os sexos masculino e feminino. Fazendo uma analise histórica, se chega à conclusão de que o sexo feminino quando entrava em um relacionamento amoroso era para se submeter inteiramente ao parceiro, não se envolvendo em aventuras paralelas, enquanto que os homens, embora casados, mantêm uma variabilidade em suas aventuras sexuais. Em meados do século XX foi marcante uma virada nessa situação que Giddens coloca como marcante para a atual situação dos relacionamentos amorosos da modernidade.

Em dialogo com Foucault, Giddens fala da “scientia sexualis” como a coisa mais importante para uma mudança radical de posição das mulheres nas relações sexuais. As mulheres, observando com seus olhos científicos o que ocorria nas relações sexuais passaram a não aceitar a variabilidade do sexo masculino, e, por que não, trouxeram essa variabilidade para o sexo feminino. Entrou em cena então o amor confluente na sociedade moderna, amor esse com características semelhantes ao “amor liquido” que Bauman muito bem descreve. Este amor confluente veio substituir o amor romântico (amor idealizado, marcado por profunda depressão por conta dessa idealização), e o amor apaixonado (amor propriamente dito, submetido às condições para a construção de algo), como conseqüência dessa falta de dialogo existente entre os sexos masculino e feminino, que por sua vez surgiu com a “scientia sexualis” muito bem descrita por Foucault. Seria um abismo entre os dois sexos que é impossível prever quando será transposto e o amor romântico ou apaixonado voltem a prevalecer nas relações sexuais.

Conclusão:

Bauman fala da liquides das instituições, dos relacionamentos humanos dentro de um contexto moderno. Foucault fala da “scientia sexualis” como uma forma banalizada de tratar as relações sexuais indo de acordo com todo um jogo repressivo. Giddens faz um excelente trabalho dialogando as duas idéias, chegando à conclusão de que existe um abismo entre os sexos masculino e feminino, que deixa confluente as relações amorosas. Fica a pergunta de até quando esse abismo entre os sexos persistirá mantendo a confluência, será que estamos longe do abismo ser transposto, ou será que uma transposição já começou?

Bibliografia:

.BAUMAN, Zygmunt. Amor liquido. Rio de janeiro: J Zahar, 2001

.FOUCAULT, Michel,. História da sexualidade 1: a vontade de saber. 17. ed. Rio de Janeiro: Graal, 2006.

.GIDDENS, Anthony. A transformação da intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas sociedades modernas. Sao paulo: Ed. Unesp, 1993.

Drogas e esporte.

Introdução:

Um dos grandes problemas da sociedade atual, ou questão que é tratado como problema na sociedade, é a questão das drogas. As representações dos usuários de drogas são as mais variadas não existe um consenso quanto a isso na sociedade, se é que podemos achar um consenso sobre alguma coisa em alguma sociedade, se nem em instituições totais, onde as condutas são ditas quase perfeitas, encontramos tal consenso.

Se a droga e seu uso é um problema ou não, é uma discussão que não é de hoje, já vem de muito mais tempo, e eu não vou me preocupar aqui em dizer se é um problema ou não, a droga está aí e pronto.

Quanto à problematização das drogas, podemos dizer que existe na sociedade, por uma parcela significativa da população, e por determinados grupos, uma visão de que aí está um problema sério. Um problema por conta dos efeitos físicos, psicológicos e sociais que as drogas podem acarretar.

Outra coisa que está presente na sociedade é o esporte, aparecendo de variadas formas, como uma necessidade, como forma de ganhar dinheiro, como forma de lazer, e como retrato de uma guerra entre os povos. A questão de tratar o esporte como uma necessidade será muito importante para essa analise do esporte relacionado com as drogas, com a questão do dinheiro não ficando atrás também.

Para fazer essa analise das drogas no esporte me atentarei em três pontos. O primeiro é o esporte como válvula de escape do mundo das drogas. O segundo é a questão do doping muito presente no esporte hoje, principalmente se falamos do esporte de alto rendimento. O terceiro ponto é a questão das drogas relacionada com um medo, o mal estar da pós-modernidade, numa referencia a Bauman e a questão do medo na pós-modernidade.

Antes, procurarei fazer uma analise entre os teóricos da sociologia e da antropologia em relação ao uso de drogas, levanta-se a questão dos usuários de drogas serem marginalizados na sociedade. Depois passarei para os três pontos principais que proponho nesse artigo relacionando o esporte às drogas fazendo uma analise sociológica em cima disso.

Uma coisa muito importante que precisa ser relembrada sempre é que o autor do presente artigo não se preocupa em definir um bem ou um mau em relação à droga, mas procurarei fazer uma descrição de como se da essa relação entre drogas e esporte, procurando não cair em juízo de valor.

Usuário de drogas tendo uma representação marginal ou não-marginal na sociedade?:

Fazendo uma revisão bibliográfica vou separar em duas partes que são a marginalização de drogas e seu uso, e os efeitos que ela pode trazer para os indivíduos e a sociedade.

.As drogas e seu uso como marginal na sociedade:

Em “(Re)construção da Juventude, Cultura e Representações Contemporâneas”

coletâneas de artigos organizada por Rosilene Alvim e Edísio Ferreira Jr. juntamente com a UFPB (Universidade Federal da Paraíba) existe um artigo falando do uso de drogas na juventude que se intitula “Notas de viagem, adolescência e uso de drogas” escrito pelo antropólogo Roberto K. Pacheco. No meio da descrição que faz, Pacheco fala dos drogados e que estes são “a escória da sociedade”, e que o uso de drogas é a explicação ultima dos atos, como se existisse uma ordem estabelecida e que o uso de drogas é a sujeira que ameaça a ordem. Pacheco coloca os termos narcisismo e demonização para falar das drogas.

Outro artigo presente na coletânea “(Re)construção da Juventude, Cultura e Representações Contemporâneas” é o que se intitula “Juventude e o uso intensivo de droga na atualidade” de autoria de Maria do Socorro de Souza Vieira. A autora fala do uso de droga como busca de razão para a vida, suporte para tomada de decisões, busca de admiração e destaque, e fala de uma ligação direta com necessidades emocionais. Viera então coloca sempre um caráter doentio nos usuários de drogas, como se estivessem de alguma forma, mesmo sendo fisicamente, marginalizados na sociedade.

Outra obra que trata do assunto é a do antropólogo Felipe Evangelista Andrade Silva que fez sua tese de monografia de graduação intitulada “A selva das representações, significados do consumo de drogas entre usuári@s na universidade”. O autor coloca olhares diferentes em relação ao uso de drogas além da visão dos próprios usuários, descrevendo também a “cultura usuária”. Outra coisa que Silva coloca são as diferentes representações dos perigos de intoxicação sendo ela voluntária e involuntária. Falando do perigo o autor cita Mary Douglas que estuda o perigo teóricamente na obra “Pureza e Perigo”.

Em sua obra Mary Douglas coloca que existe uma ordem na sociedade, mas não existe uma desordem concreta, mas sim uma desordem abstrata que se molda de acordo com idéias e dessa combinação resulta o perigo. Se tudo o que oferecesse risco fosse tratado como perigoso coisas como atravessar a rua, comer e cortar o cabelo seriam de uma conseqüência enorme, pois oferecem um risco, mas a noção de perigo é sempre selecionada e voltada para certas coisas de acordo com as questões de valores da sociedade.

Zygmunt Bauman escreve “O Mal-Estar da Pós-Modernidade”, nessa obra Bauman fala do abuso de droga e outras coisas como ligada ao grupo “perigoso” da pós-modernidade (aqueles que não conseguem se encaixar na lógica do consumo). Tal cidadão seria aquele a ser batido na pós-modernidade. O abuso de drogas entre outras coisas é a simbolização do pecado existente em tais cidadãos.

A UNFDAC (United Nations Fund for Drug Abuse Control) organizou uma obre que se intitula “Abuso de Drogas entre meninos e meninas de rua do Brasil” fazendo analise em varias regiões do país como Pernambuco, Rio de Janeiro, São Pulo, Porto Alegre, Piauí e Brasília. Contou com a colaboração de profissionais de variadas áreas como psicologia, medicina, direito, sociologia e segurança publica. Um ponto levantado na obra que é de grande importância é o uso de drogas entre meninos e meninas de rua estando relacionado com deficiências familiares e escolares (aponta dados estatísticos). É uma analise das crianças (até 17 anos) denominados “de rua”, não estuda os usuários de outras características.

Uma Outra obra é a que se intitula “Cannabis sativa L. E substancias Canabinóides em Medicina” oragnizados com E. A. Carlini, Eliana Rodrigues e José Carlos F. Galduróz. Tal obra fala do uso medicinal da maconha, levanta a discussão da diabalização da maconha na sociedade, não desprezando, no entanto, seus riscos. Uma discussão final levanta o caso de liberar ou não o cultivo e uso da maconha nas mais variadas utilidades.

Fernando Gabeira, em sua obra que se intitula “A Maconha” defende a legalização da erva; fala da história da ilegalização; fala da visão brasileira da maconha, sendo chamada em certo momento de “diamba” afastando o nome maconha que era alvo de repressão e relaciona o papel da escravidão com a visão que o brasileiro tem da maconha; fala de toda a discussão política existente quanto ao assunto, e também comenta o caso de personalidade políticas como Fernando Henrique Cardoso e Bill Clinton que tiveram contato com a maconha em parte de suas vidas.

Em “Uma Teoria da Ação Coletiva” Horward S. Becker faz uma grande explanação quanto ao uso da maconha e outras drogas. Becker fala do uso de drogas como desviante na sociedade, ou rotulado como tal. Desviante seria o individuo que desviou certa regra da sociedade, logo ele é rotulado como tal, tal comportamento deveu-se ao fato de que o individuo vê seus juizes como desviantes, estando a rotulação relacionada com questões de poder político. Fala-se de comportamentos desviantes sendo tratados varias vezes como doenças mentais por não serem considerados desejavelmente normais. Becker coloca os alcoólatras como indivíduos ambivalentes que fazem o que fazem, mas têm um sentimento de que estão desviando, enquanto que homossexuais e usuários de maconha e outras drogas ilícitas possuem uma ideologia de que estão certos e os que são contrários ao que fazer é que estão errados. Os desviantes recebem um status de controle (viciado, louco, bicha e etc). Relaciona o envolvimento de usuários de drogas com o crime à maneira que a sociedade os trata. E falando dos grupos formados por indivíduos desviantes, diz-se que estão ali para aprender com os outros como com o caráter desviante da ação que praticam.

. A relação dos efeitos psicoativos de drogas com o social:

Fernando Gabeira no seu livro “A Maconha” faz uma consideração muito curta dos efeitos psicoativos da maconha, falando que varia muito de pessoa para pessoa. Felipe Evangelista Andrade Silva vai pelo mesmo caminho de Gabeira. Becker faz uma grande relação dos efeitos com o meio social em que está inserido o usuário, o efeito dependendo assim de todo o pensamento que existe em relação à droga.

Como é possível ver então, a questão do uso de drogas, principalmente se tratando do uso da maconha, é tratado, de alguma forma, como marginal na sociedade. Procurarei agora falar do esporte como válvula de escape desse mundo marginal das drogas, considerando que assim ela é tratada na sociedade.

Esporte como válvula de escape do mundo das drogas:

O uso de drogas é um fato muito presente na sociedade. Tal fato é visto como marginal, logo, os usuários se encontram nos guetos. Certa parcela da população, em certos casos a maioria da população, encontra-se nos guetos, trabalham nos guetos, vivem nos guetos, e se divertem nos guetos também. Tal parcela da população, que tem suas vidas todas naquele meio, ganha um estereótipo, se vivem nos guetos, e as drogas estão nos guetos, então a vida dessa parcela da população está diretamente relacionado com o uso de drogas. Podemos até não achar uma afirmação de um assistente social falando isso, mas fica difícil não encontrar pensamentos dessa maneira. Fica aí a duvida, se o uso de drogas é marginal na sociedade por se encontrar nos guetos ou se é o contrario. Essa questão ficará para a ultima parte do presente artigo. Preocuparei-me agora com o esporte sendo uma válvula de escape do uso de drogas, já que essa é uma coisa tratada como ruim na sociedade, então consideremos no momento que o uso de drogas é marginalizado na sociedade.

Sempre que falamos de alguém que se encontra em situação difícil, que cause alguma seqüela, enfim, que se encontra numa situação negativa frente à normalidade da sociedade, pensamos numa válvula de escape para que a pessoa possa sair de tal situação. Uma pessoa que se encontra em profunda depressão precisa se consultar com um psicólogo ou um psicanalista, além de consultas formais de gabinete é recomendável uma mudança drástica de vida, ou seja, se a pessoa só ficava trancada dentro de casa, é recomendável que saia um pouco de casa, se existe uma abstinência sexual, é recomendável que se abra a possibilidades do tipo, entre varias outras coisas que é aplicável a varias outras anormalidades presentes em nossa sociedade, incluindo aí o esporte.

Existe uma discussão dentro e fora do grupo de usuários de drogas, se o uso de drogas é ou não um problema para a sociedade, ou se o uso provém de algum problema existente na vida do usuário como depressão, problemas sociais ou coisa do tipo. Fala-se muito do uso de drogas relacionado a problemas pessoais, mas também existem negações, existe o discurso de que se usa droga não por algum problema, mas pelo simples prazer que a droga traz, as pessoas fumam maconha, cheiram substancias como a cocaína, bebem bebidas alcoólicas por que simplesmente gostam.

Becker fala dos indivíduos rotulados como marginais por uma determinada característica que possui, ou alguma pratica e etc. Essa rotulação como já vimos antes se da de acordo com uma determinada idéia e é muitas vezes tratado com uma doença. Um bom exemplo disso é se pegarmos o contexto mundial, um presidente de um país que se coloca contrario à lógica da globalização é tratado como um problema para todo o sistema e varias vezes é chamado de louco.

Existem vários programas sociais que trabalham visando retirar indivíduos dos guetos, ou seja, da posição de marginais, e os usuários de drogas estão incluídos, logicamente, nesses que são visados por tais programas. Fala-se da educação como válvula de escape, da arte, e é claro do esporte. Um grande exemplo disso é o esporte à meia noite, em que meninos de rua são retirados da “vadiagem” e são levados, quase que convocados a praticarem esportes como uma situação contraria de suas vidas na rua em que as drogas estão muito presentes. A própria denominação “marginal” da uma idéia de desintegração da sociedade, o esporte então viria como uma forma de integração do individuo na sociedade. Atribui-se aí então uma função integradora ao esporte.

Emile Durkheim fala da questão da anomia na sociedade como algo que desintegra a sociedade, derruba os pilares construídos no meio social, vai contra uma consciência coletiva construída para uma boa harmonia na divisão do trabalho social existente em uma sociedade de solidariedade orgânica. Lendo Durkheim, fica claro que, questões como o crime, e o suicídio não representam uma patologia na sociedade, e é bem discutível se o uso de drogas entra nessa questão também. Uma coisa que também é presente na obra de Durkheim é o funcionalismo, se atribui funções a certos elementos sociais, o esporte então é tratado como integrador exercendo tal função na sociedade. Sendo os usuários de drogas rotulados como desintegrados da sociedade, ou marginais como coloca Becker, o esporte então está como válvula de escape para os indivíduos “afundados” no “mundo das drogas”, integrando-os da maneira devida.

Doping:

Vivemos hoje numa sociedade em que o individuo é muito valorizado, se procura sempre ser o melhor, pelo menos frente aos próximos em tudo em que se envolve. Por certa valorização do individuo, coisa que ta um tanto banalizada e que foi muito idealizada pelos sábios iluministas, dando olhares para uma sociedade moderna, onde a integração das pessoas não é o importante, mas sim o estar na frente do outro, o que se busca é sempre o caminho da vitória em todos os ramos da vida. Nas relações sexuais, por exemplo, a questão do amor se transformou drasticamente, o sentido não é mais o amor, como o desejo de interação humana, uma junção dos meios naturais e dos meios sociais para fortalecer os laços humanos, tal junção se daria através das relações sexuais. As relações sexuais não têm mais esse sentido, ao entrar numa relação se pensa no companheiro como um produto que vai satisfazer os prazeres, que possuem qualidades, mas também possuem defeitos, e tais produtos podem ser trocados, devolvidos ou simplesmente jogados no lixo, sendo que o amor que está envolvido não passa de uma simples ilusão do fortalecimento dos laços humanos. Bauman coloca muito bem essa questão em sua obra que se denomina “Amor liquido”. O esporte não fica pra traz nesse império da racionalidade, da individualidade e da liquides que a modernidade traz para todos os elementos da sociedade.

Falamos então do uso de drogas influenciando o meio esportivo, deixando a pergunta, em contraposição com o tópico anterior do artigo, de onde entra o uso de drogas no meio esportivo influenciado pela modernidade. Seria um esporte de altíssimo rendimento em que o competir não é o importante, mas o importante é a vitória a todo o custo, não importando o que se faça para alcançar a vitória.

Pegando um pouco do que Bauman colocou sobre o amor podemos fazer uma relação com o esporte. Os jogos olímpicos dos tempos modernos, tendo sua primeira edição realizada em Atenas (uma lembrança dos jogos olímpicos dos tempos antigos) e realizada no ano de 1896, foram idealizados pelo Barão de Coubertin visando à paz e a integração entre os vários povos do mundo, com a participação da grande maioria dos países existentes no planeta.

Com o limiar da guerra fria, os jogos olímpicos mudaram de lógica. O mundo era dividido em duas partes, o bloco socialista e o bloco capitalista. O esporte passou a simbolizar a guerra entre os dois blocos. O importante era mostrar a diferença, quem é que predominava quem era ao mais desenvolvido, enfim, quem era o mais poderoso. O que Coubertin idealizou ficou pra traz, o que o esporte ajudava a fazer era separar o mundo ainda mais em suas diferenças.

Uma pergunta que vem é como fica o esporte com uma derrocada da União Soviética, com a queda do muro de Berlim, pondo fim à guerra fria. Não existe mais uma luta entre idéias, mas agora o esporte se voltou para o lucro de grandes empresas e empresários. O grande atleta agora virou um funcionário de uma das grandes empresas, funcionário que está ali mostrando a marca da empresa, marca essa que precisa aparecer, e só vai aparecer se o atleta tiver um desempenho satisfatório para que ganhe destaque e repercussão e assim o atleta, e principal a marca ganhe carisma.

O uso de drogas que estimulam fisicamente os atletas está muito presente nesse jogo, mesmo que o uso de alguma delas não é moralmente aceito na sociedade, mesmo que a uso seja tratado como marginal. Existem vários casos relacionados a isso na atualidade, podemos pegar como exemplo o caso da Rebeca Gusmão, que ainda está sob grande discussão e investigação, mas fica claro que existe um grande jogo de interesses, envolvendo pessoas importantes e empresas importantes também.

Drogas e esporte e o mal-estar da pós-moderna:

Relacionamos dois pontos de relação entre o esporte e as drogas. No primeiro vimos que, de certa forma, o esporte serve de válvula de escape do chamado “mundo das drogas”. O outro seria o uso de drogas no esporte, relacionado com o esporte de alto rendimento o a vitória a todo o custo.

Vários autores dentro da sociologia estudam o uso de drogas como marginais na sociedade. Uma duvida que fica é uma pessoa como Armando Diego Maradona que caiu no escândalo de ser pego no exame anti-doping da copa do mundo de futebol de 1994, e depois caiu em vários indícios de uso de substancias tóxicas que não tinham nada a ver com a questão do rendimento, e mesmo assim, é contemplado como o maior ídolo nacional na Argentina, com as pessoas, não querendo saber se Maradona usa ou não substancias proibidas.

Uma pessoa desconhecida e de baixa classe social seria marginalizada, certamente, em território argentino por usar as mesmas substancias usadas por Maradona. Quanto a isso podemos voltar ao que Bauman coloca em sua obra “O Mal-estar da Pós-modernidade”, o autor fala que diferente da modernidade onde o medo era relacionado com aqueles que queriam derrubar a ordem, na pós-modernidade tal medo está voltado para aqueles que não conseguem se adequarem à sociedade, que é imperada pelo consumo. O medo, assim, está voltado para aqueles que não podem consumir, ou seja, para aqueles que possuem renda baixa, e a estes fica relacionado o abuso de drogas, o abuso sexual, o crime entre varias coisas, estando aí o mal-estar da pós-modernidade.

O drogado argentino que é marginalizado é marginalizado por que é pobre de algum capital (fazendo uma referencia ao trabalho de Bourdieu). Maradona tem capital o suficiente para ser pego com drogas e não ser marginalizado na Argentina, ou o a dominação carismática (trazendo a discussão feita por Weber na teoria da dominação) que este possui naquele meio social é tão grande. Tudo isso demonstra que o mal-estar da pós-modernidade está voltado para outra coisa que não o uso de drogas, sendo tal questão tratada, de maneira ignorante, como intrínseca a aqueles que não conseguem se adequarem à lógica do consumo, ignorância, que eu coloco, é de por puro carisma o fato de Maradona ter usado substancias tóxicas ser ignorado em beneficio de sua contemplação como o grande ídolo nacional argentino.

Bibliografia:

.DOUGLAS, Mary. Pureza e perigo. Sao paulo: Perspectiva, 1976.

.(RE)CONSTRUÇÕES da juventude: cultura e representações contemporâneas. João Pessoa: Editora Universitária-PPGS/UFPB, 2004.

.BECKER, Howard Saul. Teoria da acao coletiva(uma). Rio de janeiro: Zahar, 1977.

.BAUMAN, Zygmunt. Mal estar da pos-modernidade(o). Rio de janeiro: J Zahar, 1998.

.Reuniao Abuso de Drogas Entre Meninos E Meninas De Rua No Brasil (1990: Sao Paulo). Abuso de drogas entre meninos e meninas de rua do brasil. Sao paulo: Cent Bras Inf Drogas Psicotrop, 1990.

.SILVA, Felipe Evangelista Andrade. A selva das representações: significados do consumo de drogas entre usuári@s na universidade. 2005.

.CAERLINI, E. A. Cannabis sativaL. E substancias canainóides em medicina. 1, ed, São Paulo: CEBRID, 2004.

.GABEIRA, Fernando. A Maconha. 1. ed, São Paulo: Publifolha, 2000.

.BAUMAN, Zygmunt. Amor liquido. Rio de janeiro: J Zahar, 1998

.DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. 17. ed. São Paulo: Nacional, 2002.

A modinha e o Triste Fim de Policarpo Quaresma.

Introdução:

A modinha é a maior expressão musical genuinamente brasileira. Isso é a conclusão que vários estudiosos da musica brasileira chegaram ao estudarem profundamente a modinha entre outros vários gêneros musicais. Podemos incluir entre os estudiosos o personagem da grande obra do escritor pré-modernista Lima Barreto, tal personagem é Policarpo Quaresma.

Em “Triste fim de Policarpo Quaresma” Lima Barreto conta a história de um ultranacionalista, ufanista, o major Quaresma que por seu sentimento de amor total pelo Brasil entra no exército para lutar pelo país, mas por suas limitações físicas não consegue o que quer, mas mesmo assim presta serviços à pátria fazendo serviços burocráticos no exército. Estudando mais a fundo a identidade brasileira, Quaresma chega à conclusão que a língua portuguesa não é genuinamente brasileira, mas sim o tupi, dessa maneira, manda para o congresso um requerimento para aprovar o tupi como a língua oficial brasileira no lugar do português que só demonstra a intervenção do europeu no território e na cultura nacional. Por tal fato entre tantos outros, Policarpo Quaresma é visto como louco, indo assim várias vezes para o hospício, sendo rejeitado na rua e também no exército.

Em um de seus vários estudos sobre a nação, Quaresma estuda as manifestações artísticas e chega à conclusão de que a modinha é a principal expressão artística nacional. Com isso ele chama Ricardo Coração dos Outros para lhe ensinar a tocar violão para que possa assim ter um contato maior com a modinha e, dessa maneira, com seu país.

Ora, quando Coração dos Outros começou a freqüentar a casa de Quaresma começou um cochicho na rua, as pessoas se perguntavam como que uma pessoa tão séria e estudiosa como o major Policarpo estava se envolvendo com coisas do tipo. Essa coisa de tocar violão, de modinha era pra gente de baixa categoria. A preocupação com a arte atrelada a todo o nacionalismo exagerado vai até a morte de Quaresma.

Lima Barreto, em sua obra, bate muito nessa tecla do nacionalismo exagerado e retórico existente no Brasil no século XIX, e usa a ironia para falar dessas mazelas, e é lógico que a modinha se inclui nessa história toda, a história de um país que às vezes tem convicção, mas em outras sofre ao falar de sua identidade. Falemos então da modinha em si e sua relação com o país, partindo depois para considerações finais em relação ao meio social brasileiro.

A modinha na moda no Brasil:

A modinha é considerada o primeiro gênero musical da musica popular brasileira. Por volta do século XVII, já se ouvia pelas ruas da Bahia uma música tocada na viola com marcação staccato que tinha letra de caráter pagão. Os autores e literatos portugueses tomaram conhecimento do novo gênero em Lisboa pela segunda metade do século XIX.

Quando por Volta de 1775, vários historiadores mencionam a presença nos palácios de diversas cidades portuguesas, a presença de um brasileiro que ao som da viola de arame cantava modinhas e lundus, essa cantor era Domingos Caldas Barbosa, ele era um mulato filho de Português com uma angolana nascido no Rio de Janeiro por volta de 1739 e falecido em Lisboa em 1800. (TINHORÃO, 1974)

Domingos caldas aparece em Lisboa cantando e acompanhando a viola, o que mais choca os europeus da corte da Rainha D.Maria I é exatamente o tom direto e desenvolto com que o trovador se dirigia ás mulheres, e a malícia dos estribilhos com que rematava os versos.

Domingos Caldas é fundamental para se entender a trajetória da modinha, porque ele foi o grande divulgador tanto da modinha como do lundu na corte portuguesa, esses gêneros são considerados os pilares mestres sob os quais se ergueu todo o arcabouço da música popular brasileira, segundo Mozart de Araújo. Tais considerações levaram à intermináveis debates envolvendo a possível comprovação da origem portuguesa brasileira de modinha e por decorrência geraram questões, relativas a proveniência erudita ou popular do gênero.

O mais antigo documento sobre Caldas Barbosa e o aparecimento da própria modinha, os manuscritos do português Antônio Ribeiro dos Santos, de fins do século XVIII, revelam que a grande novidade do tipo de música lançada em Lisboa pelo mulato brasileiro era o rompimento declarado não apenas com as formas antigas de canção, mas com o próprio quadro moral das elites, representado pelas mensagens dos velhos gêneros, como as cantilhenas guerreiras, que inspiravam animo e valor.

A modinha causava frison nas pessoas pelo seu tom sensual, essas cantigas amorosas dos suspiros, de requebros, de namoros refinados, de garridices, cujo surgimento na colônia se explicava pelas menores restrições morais existentes longe do atuante sistema de censura da metrópole, tinham começado a fazer sucesso em Lisboa, isso indicava que tais canções vinham atender as novas condições da vida cortesã.

Entre os séculos XVIII e XIX os saraus foram praticados pelas elites, esses saraus eram formas de lazer, e, por conseguinte de divulgação da música cultivada pela classe média em sua vida cotidiana. Era local onde músicos amadores e profissionais podiam se emanar, tocando e cantando as suas peças preferidas. Era também a oportunidade de moças das finas famílias exibirem seus dotes ao piano, ou sua encantadora voz, acompanhado pela delicadeza do dedilhado na guitarra (Nery1994).

Portanto o gosto pela música parece constante na cultura dos europeus vindos para o Brasil. O negro por sua vez, mesmo em condições subumanas sempre cultivou o gosto pela música, seja em sua forma ritualística ou como divertimento.

Em meados do século XVIII, ainda que altamente europeizada, a colônia vai construído o seu próprio caminho musical à medida que as vilas se desenvolviam. É nesse ambiente e condições sociais que nos últimos anos do século XVIII, surge à modinha, um tipo especial de canção que será cultivada tanto em Portugal quanto no Brasil. Esta designa um tipo de canção lírica, singela e de duração reduzida, composta para uma ou duas vozes acompanhadas por guitarra e teclado. Cultivado inicialmente pelas classes mais abastadas, aos poços, vai se popularizando até tornar-se pouco a pouco, um veiculo de expressividade musical, tanto portuguesa como brasileira.

As discussões pela definição da paternidade da modinha parecem infrutíferas já que, a despeito da sua origem e seu surgimento vai adotada pelas duas pátrias como filha legítima. Porém a origem da modinha esta relacionada com a moda portuguesa, sua antecessora, que designava qualquer tipo de canção que era praticada nos salões de Lisboa pelas classes mais favorecidas. No Brasil a palavra moda assume duas acepções diferentes, primeiro qualquer tipo de canção como em Portugal, e a moda de viola.

No final dos setecentos, literatos e cronistas portugueses diferenciam a modinha portuguesa da brasileira e a atribuíam a estão características próprias advinhas da colônia, no caso, o Brasil. O pesquisador português Manuel de Morais descreve algumas delas: Melodia ondulante cromatismo, melódicos e acompanhamento singelo, melodias entrecortadas e compostas de motivos sincopados, abuso de cadencias femininas, mas sempre primado de delicadeza.

Desde que Mario de Andrade escreveu em 1930 no prefácio da sua coleta modinhas imperiais que a proveniência erudita européia das modinhas é incontestável. Essa conclusão passou a ser aceita e repetida sem qualquer reexame. Basta que se conheça um pouco da vida de Domingos Caldas Barbosa cujo nome se liga ao aparecimento da modinha em Portugal para que se revele tal improbidade.

O que ia acontecer com a modinha, a partir dos últimos anos do século XVIII, até a segunda metade do século seguinte, era o fato de que, passando a interessar aos músicos da escola, o novo gênero acabaria realmente se transformando em canção camerística tipicamente de salão, precisando aguardar depois o advento das serenatas á luza de lampiões de rua, nos últimos anos do século XIX, para então retornar a tradição de gênero popular, pelas mãos dos mestiços tocadores de violão. A modinha, embora, a destinar a historiografia musical da época apontada sempre como música clássica, continuava a ser cultivada anonimamente por cantores e músicos de rua.

Tal como no Rio de Janeiro, à volta da modinha às raízes populares ia ser conseguido na Bahia pelo trabalho às vezes paralelo, ás vezes conjunto, de intelectuais e trovadores de violão de rua, unidos de qualquer forma pelo denominador comum do espírito boêmio. A figura do compositor completo, cuja ação estendendo-se da Bahia ao Rio de Janeiro, e cuja criação aliando a popular parceria intelectual com Arthur de Azevedo, resumiria toda a trajetória da modinha do plano erudito ao violão do povo. Tratava-se do ator, cantor e violonista Xisto Bahia.

Quando por volta de 1860, o jovem boêmio baiano de voz abaritonada Xisto Bahia começa a se tornar conhecido entre os cantores de serenata, a modinha já circulava nos meios populares na voz daqueles seresteiros, o que ostensivamente se fechavam às portas.

No caso de Xisto Bahia, entretanto a importância de cantor e compositor residia de que, sendo pela a origem um tocador de violão tão popular quanto desses pretos e mestiços que tocam violas, a sua decidida vocação de ator ia levá-lo a atuar no âmbito da classe média, servindo de perfeito intermediário entre literatos compositores da primeira metade do século XIX, e aqueles cantores de rua.

Embora a literatura seja muito escassa quanto ao que se refere à modinha popular, a maioria dos depoimentos existentes coincide no reconhecimento dessa importância do ator e compositor Xisto Bahia. Isso quer dizer que apesar da condição de representante das camadas mais baixas do povo, Xisto Bahia, conseguia superar com a força da sua personalidade a marca de classe, impressionado as camadas médias e a própria elite, com a beleza da música e da dignidade que impressionava a interpretação das suas modinhas.

O fato de Xisto Bahia ter transito entre os intelectuais, depois a parceria como maranhense Arthur de Azevedo tornado co-autor da comédia em um ato uma véspera de reis, ia fazer com que vários poetas se designassem a escrever versos especialmente para serem por ele transformados em modinhas.

A modinha de música composta por tocadores de violão do povo, com letra escrita por poetas de melhor nível literário, espalhou-se pelas camadas mais humildes em fins do século XIX, e início do século XX, na voz dos boêmios e seresteiros, o romantismo dos seus versos sofreu um processo de adaptação cultural que faria tal gênero de canção merecer mais que nunca uma classificação popular.

Durante o século XIX, a modinha e lundu, já autônomos em suas manifestações musicais, tornam-se verdadeiros meios da expressividade musical tanto popular como erudita. Finalizando, não obstante a origem aristocrática da modinha, praticada inicialmente, nos salões cortesãos e nas casas dos senhores mais abastados, aos poucos e numa convivência nem sempre tranqüila, foi observando características musicais e poéticas manifestações adivinhas das classes econômicas menos privilegiadas, irmanando-se ao parceiro inseparável lundu ainda que nesse rumo, a aceitação de ambos se folclorizaram-se.

A importância da modinha para cultura nacional é que apesar de ela ter surgido no meio erudito foi se incorporando as classes populares, foi se popularizando e por ser pioneiro foi influenciando os outros gêneros musicais, como o lundu e depois o samba, e criando conseqüentemente uma musica que fosse originalmente brasileira.

A modinha e a “geléia geral brasileira”:

Começamos agora com um trecho de uma musica do movimento musical brasileiro que revolucionou a musica brasileira nos anos 60:

Um poeta desfolha a bandeira

E a manhã tropical se inicia

Resplandente, cadente, fagueira

Num calor girassol com alegria

Na geléia geral brasileira

Que o Jornal do Brasil anuncia.

(Gilberto Gil e Torquato Neto)

O poeta tropicalista Gilberto Gil, quando canta essa musica, nos lembra que o Brasil é uma geléia, uma geléia geral. Lima Barreto bate no ponto do nacionalismo extremado que os tropicalistas não se esqueceram de enfatizar, também com bastante ironia, diga-se de passagem. Em “Triste fim de Policarpo Quaresma” vimos as pessoas olharem a modinha de maneira pejorativa, embora Quaresma atentar a todos que tal gênero musical é muito importante, pois retratava eles mesmos.

Gil e Torquato falam de geléia geral, poderíamos fazer uma comparação com a salada também, propondo uma grande mistura de varias coisas. E a modinha que começou nas classes altas, foi para a popularidade como sendo o ritmo que trazia alegria para as pessoas dentro das contradições da geléia geral brasileira, embora as pessoas achem um absurdo e um ritmo de muito mau gosto. Vemos aí não só uma mistura formando a geléia, com as maneiras de sentir essa geléia muito marcadas pela mistura (também) de bem ou mal. Se pegarmos as obras de Gilberto Freire e Sergio Buarque de Holanda, sentimos muito bem isso.

Freire fala que existiu um regime patriarcal no Brasil em que, embora existisse uma distancia muito grande, a casa grande e a senzala viviam em cooperação formando uma harmonia, uma geléia que era muito boa para a sociedade (FREIRE, 1989). Sergio Buarque de Holanda, ao contrario de Gilberto Freire, vai falar que isso faz não é bom para o país (HOLANDA, 1936). E se pegarmos vários outros estudiosos veremos que a discussão é grande quanto a essa geléia e que já dura faz muito tempo e não foi nada resolvida.

Fica então a pergunta, cadê a base para o nacionalismo? É possível falar de nacionalismo com essa geléia geral? Será que é valido, considerando o que Schwars coloca sobre o assunto, falar de nação, um conceito tão moderno, europeizado e idealizado pelo iluminismo em face de um Brasil, país continental e marcado pelo escravismo? Às vezes é por isso que chamavam Quaresma de Louco, embora a nação não fosse negada?

A modinha está aí, concretamente ou através de suas influencias no samba e outros novos ritmos. E os poetas desfolham a bandeira e a manhã tropical se anuncia na geléia geral brasileira.

Bibliografia:

.FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 26. ed. São Paulo: Record, 1989.

.HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raizes do brasil. Rio de janeiro: J Olympio, 1936.

.SCHWARS, Roberto. “Nacional por substração” e “Complexo, moderno, nacional e negativo”, in R. Schwars, Que horas são?. São Paulo, Companhia das Letras.

.TINHORÃO, José Ramos. “A Modinha”, “O Lundu” e “ O Maxixe” in Pequena Historia da Musica Pupular (da modinha à canção de protesto), Editora Vozes, Petrópolis, 1974.

.BARRETO, Lima. Triste fim de Policapo Quaresma. São Paulo: Atelie Editorial, 2001